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Comunhão: Unindo Corações

Começarei com uma reflexão do estudioso francês Gilles Lipovetsky. Ele observa uma distinção marcante entre o homem contemporâneo e aquele de algumas décadas atrás. Enquanto o homem do passado valorizava a vida em comunidade, envolvendo-se em interações sociais após o trabalho e desfrutando de momentos de convívio com os vizinhos, por exemplo, o homem atual demonstra uma preocupação mais evidente com seus interesses individuais.

Ao longo do tempo, os interesses sociais cederam lugar aos interesses pessoais, e as ferramentas de autoconhecimento são utilizadas para capacitar indivíduos a administrar suas vidas de acordo com seus desejos. Esta mudança é evidente no mercado de consumo, que agora oferece produtos e serviços altamente personalizados para atender às preferências individuais. Um exemplo disso é a moda, onde homens e mulheres buscam peças feitas sob medida para expressar sua individualidade.

Até mesmo em situações cotidianas, como a escolha de uma refeição, vemos a influência dessa mentalidade centrada no indivíduo. O Ifood é exemplo disso, basta abrir o aplicativo do celular que o cardápio está a disposição. Ou seja, as várias opções colocam o homem no centro das decisões.

Estamos testemunhando uma sociedade onde as pessoas são mediadas pelo mercado de forma cada vez mais personalizada, e as relações humanas não estão imunes a essa consciência de consumo.

¹ Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.

² É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.

³ Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.

Salmos 133:1-3


  1. Um Povo, Um Rei


A força da união de Israel repousava em Deus. Ao longo de sua história, Israel enfrentou desafios como a escravidão, a tentação da idolatria e a opressão de reis autoritários. A desobediência do povo muitas vezes resultou na perda de suas terras e na influência de culturas estrangeiras, levando à adoração de deuses falsos.

No entanto, a união do povo de Deus é um antídoto contra a disseminação de heresias e influências culturais. Embora possamos discordar em aspectos como música, vestimenta ou comportamento, nada deve ser mais poderoso em nos unir do que nossa fé em Jesus Cristo. Sua morte e ressurreição são a força motriz por trás da comunhão entre pessoas de diferentes origens e culturas, unidas em uma só pessoa.

A comunhão entre os seguidores de Cristo é também uma expressão missional, exigindo que estejamos dispostos a fazer o que nossa natureza humana resistiria. Aqueles que pertencem a Cristo são dominados por Ele, e esse domínio se estende até mesmo aos inimigos, pois Jesus nos chamou a amar e perdoar.

A igreja de Cristo é dispersa por todo o mundo, unida em sua fé comum. Esta comunidade de crentes é uma antecipação da comunhão celestial que experimentaremos na eternidade. Portanto, devemos celebrar a comunhão com nossos irmãos na fé, compartilhando as bênçãos e desafios da vida.

A comunhão é uma manifestação da graça de Deus, onde encontramos a presença de Jesus entre nós. É na vida em comunidade que compartilhamos a Palavra de Deus e experimentamos o poder transformador da comunhão.


  1. Lavados pelo Sangue de Cristo


O óleo representa a unção do povo de Deus por meio do sangue de Cristo. Jesus redimiu Seu povo e o ungiu, agora conduzido pelo Espírito Santo. É importante destacar que nenhum indivíduo ordinário pode conduzir a igreja de Cristo. Confiança em líderes políticos para orientação espiritual é equivocada e beira a heresia.

Além disso, o óleo pode ser interpretado pelo seu valor e fragrância notável, que simbolizava o respeito pelo convidado e a consagração do sacerdote para o serviço de Deus. Assim como o óleo unia o povo de Israel em torno de um líder, a comunhão entre os crentes é um meio de graça, permitindo que sintam a fragrância do bom perfume de Cristo.

Valorizemos o privilégio de caminhar em comunidade, pois fazer parte da família de Cristo na terra implica em ser acessível e não em uma vida monástica. Embora isso possa representar um desafio, é essencial seguir o que a Palavra de Deus nos ensina.


  1. Cristo é o elo que nos conecta a Comunhão


O monte Hermon, o mais alto de Jerusalém, tinha uma peculiaridade notável: o orvalho denso que se formava em seus alagados e era levado pelo vento até o monte Sião, a uma distância considerável de mais de 350 km. Esse fenômeno fazia com que as terras de Sião fossem completamente molhadas e fertilizadas, tornando-as frutíferas. Essa dinâmica ilustra de forma vívida o símbolo da unidade.

Mesmo diante da grande distância entre os montes, a união prevalecia. Da mesma forma, as diferenças entre os povos, sejam culturais ou étnicas, não são suficientes para separar a igreja dos desígnios do Senhor. Atualmente, as diferenças culturais estão diminuindo, impulsionadas pelo poder da globalização que une o mundo através do consumo.

A moda é um dos principais símbolos desse movimento de unificação global. Embora algumas tradições regionais persistam, as diferenças culturais são cada vez menos perceptíveis. Hoje, as pessoas tendem a se conectar com base em seus interesses individuais, deixando de lado a centralidade de Cristo como fio condutor das relações.

Não significa que não devamos nos conectar com base em interesses específicos, mas é essencial que esses interesses não se tornem o principal norteador das relações contínuas. A verdadeira comunhão é aquela que se baseia em Cristo. Os nossos interesses podem nos conectar inicialmente, mas as conversas e os encontros devem girar em torno de Jesus e da nossa jornada espiritual.

Bonhoeffer destaca dois tipos de relações: a visão idealizada, que se baseia nos nossos interesses naturais e pode levar a conflitos e facções na igreja, e a visão espiritual, que reconhece em Cristo o ponto de convergência entre os nossos interesses e os do outro. Essa visão espiritual coloca Jesus como o motivador dos encontros e nos ensina a receber e caminhar com aqueles que são diferentes de nós, sabendo que é a graça de Deus que nos mantém unidos e norteia todas as nossas decisões.


  1. Considerações Finais


Em conclusão, a analogia do orvalho do monte Hermon que fertiliza as terras distantes do monte Sião nos ensina valiosas lições sobre união e comunhão. Assim como o orvalho, que transcende a distância física para nutrir e unificar as terras, a presença de Cristo deve ser o elo que une os crentes, independentemente das diferenças culturais, interesses individuais ou distâncias geográficas.

Nossa comunhão não deve ser guiada apenas por afinidades naturais ou visões idealizadas, mas sim pela centralidade de Jesus Cristo em nossas vidas. Ele é o verdadeiro motivo pelo qual nos reunimos, Ele é quem nos motiva a abrir nossas casas e nossos corações para aqueles que são diferentes de nós. É a graça de Deus que nos sustenta e nos orienta em nossa jornada de fé.

Que possamos, como povo de Deus, valorizar e cultivar essa comunhão que transcende barreiras, nutrindo-nos uns aos outros com a presença e o amor de Cristo, para que juntos possamos florescer e frutificar na fé e no serviço ao Reino de Deus.

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