A mesa tem papel central na história do cristianismo. Já nos primeiros anos após o surgimento da igreja, a mesa era um instrumento de comunhão entre a família de Deus. A história conta que, no dia em que celebravam a Ceia do Senhor, celebravam também o que era conhecido como festa do Amor, ou festa Ágape, que era comemorada semanalmente. Nesse dia, os cristãos se reuniam em torno da mesa e cada família levava um prato para ser socializado. Comiam, bebiam e tinham um momento de comunhão ao redor da mesa. Após isso, celebravam a Ceia do Senhor. Nessa festa, não somente tinham um tempo de comunhão, como também era uma oportunidade de os irmãos mais pobres poderem se alimentar bem, ao menos uma vez na semana. Infelizmente, essa prática acabou se perdendo ao longa da história da cristandade.
Jesus tinha uma missão que era trazer o Reino de Deus para a Terra, afim de resgatar um povo para Si. Mas qual era o método que Jesus usava? Como Ele colocava em prática sua missão? Ele se assentava à mesa com pecadores:
Lc 7.34Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e vocês dizem: “Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!”
Diferentemente dos fariseus que se separavam dos pecadores, Jesus, o Filho do Homem, se misturava a eles e fazia isso assentando-se à mesa. Ele comia e bebia vinho com cobradores de impostos e pecadores e isso aterrorizava os judeus que não se misturavam com pecadores e, muito menos, comiam com eles. Segundo a tradição judaica, comer com um pecador tornaria a pessoa cerimonialmente impura. Por isso, ficavam escandalizados com Jesus.
A mesa se torna um dos símbolos principais da missão de Jesus. Ela simboliza a hospitalidade que, por sua vez, é manifestada pelo amor, inclusão, generosidade e graça.
Hospitalidade e Amor
Em Mateus 25. 34-40, Jesus fala sobre o dia do julgamento final. As ovelhas serão convidadas para herdar o Reino dos céus; os cabritos serão destinados ao fogo eterno. Jesus justifica o porquê as ovelhas herdarão o Reino dos céus: elas alimentaram o faminto, deram de beber a quem tinha sede, hospedaram o estrangeiro, vestiram o nu e foram visitar o enfermo e o doente. Jesus diz que cada vez que fizeram isso, na verdade era como se estivessem fazendo a Ele mesmo.
Construímos um universo ao redor das nossas próprias prioridades. Estamos preocupados com o que vamos beber e comer, contrariando o ensino de Jesus, que disse para buscarmos o seu Reino e a sua justiça em primeiro lugar, e as demais coisas nos serão acrescentadas. Nosso foco está em nós mesmos! E sabe qual o resultado? Parece que nunca temos o suficiente.
Hospitalidade e Inclusão
No livro de Mateus 10. 9-13, identificamos Jesus assentado à mesa na casa de um publicano, junto com outros publicanos. Estes eram os cobradores de impostos. Embora fossem judeus, estavam a serviço do Império Romano. Além disso, tinham o costume de extorquir o povo, por isso, eram odiados pelos compatriotas. Eram considerados gentios e pagãos pelo seu próprio povo. Eram tratados como porcos imundos que não podiam, sequer, entrar na Sinagoga. Não podiam servir como testemunhas em julgamento, porque não eram de confiança. Eram tratados da mesma forma que eram tratados os ladrões, mentirosos e assassinos. Esse homem, odiado pelo seu povo, inimigo de sua nação, era aquele que Jesus se assentava à mesa e chamava para ser seu apóstolo.
Notamos um comportamento altamente inclusivo de Jesus. Hoje, somos convidados a fazer o mesmo, acolhendo homossexuais, corruptos, e outras pessoas que podem ser marginalizadas ou excluídas. O fato é que admitimos uma série de pecados, pois, selecionamos aqueles que são socialmente aceitos.
Hospitalidade e Generosidade
Em Lucas 14. 12-14, Jesus estava em um jantar na casa de um dos principais dos fariseus e, como de costume, estava sendo observado. Então, se dirige ao anfitrião tocando em um ponto muito importante: a motivação por trás de um convite. Jesus não está proibindo de convidarmos pessoas do nosso convívio para um jantar. O que Ele está falando tem a ver com identificar as motivações egoístas em nosso coração ao fazermos isso.
Jesus contrasta o egoísmo com a generosidade. Esta se manifesta quando servimos aquele que não pode nos recompensar. Ser generoso implica em dar sem esperar nada em troca, do contrário é egoísmo disfarçado de generosidade.
A generosidade pode não fluir naturalmente para a maioria das pessoas. Por isso, estas precisam ser intencionais e exercitarem a generosidade. Pela fé, decidem ser generosas com outras pessoas, abençoando-as, sabendo que Deus não a desamparará.
Hospitalidade e Graça
Em mais um episódio de Jesus com um publicano chamado Zaqueu (Lc 19. 1-10). Ele era chefe dos cobradores de impostos. Certamente um homem muito rico. Estava determinado a encontrar Jesus. Sendo de baixa estatura, precisou subir em uma árvore para avistar Jesus em meio à multidão. Jesus, então, dirige-se a ele e se convida para se hospedar na casa daquele homem. Mais uma vez, o povo crítica.
A graça que Jesus oferece a pecadores evidencia o fato de que não a merecemos. E, sob essa ótica, devemos exercitar a hospitalidade. Então se, por um lado, não oferecemos um jantar a quem possa nos recompensar, também não vamos oferecer um jantar somente a quem merece. Hospitalidade verdadeira deve vir acompanhada de graça; ou seja, servimos o outro no porquê ele mereça nosso amor, mas simplesmente porque estamos tão cheios do amor de Jesus que deixamos transbordar.
A mesa reflete o próprio caráter de Deus. Isso porque hospitalidade pressupõe estar aberto para receber o outro com amor e graça. É isso que fazemos quando recebemos alguém em nossa casa para um jantar. É isso que Deus fez ao encarnar na pessoa de Jesus Cristo e se abrir para receber pecadores com amor e graça. Por isso, a hospitalidade manifestada na mesa reflete o caráter de Deus.
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